Verão de 2012, num dia quente de Agosto, os dois a contemplar o mar que tanto ajudou a lidar com tudo o que estava a acontecer…
Mas antes deixem-me contextualizar esta história: Diagnóstico fatal, tumor no intestino, irreversível e com um mês de vida.
Esperança, tratamentos, alimentação saudável, coragem para tornar os dias mais “coloridos”, mas faltava…faltava mais…
Os dias eram vividos intensamente, redobrados de cuidado e amor, mas faltava…faltava mais…
Quem já sentiu isto, o sabor amargo de uma perda iminente?
Quem já sentiu vontade que o tempo parasse?
Quem já viu todos os sinais e mesmo assim não se permitia ver?
Quem também sentiu que apesar de tudo, faltava, faltava falar mais sobre as coisas?
Faltava falar verdadeiramente das coisas, das emoções, que inquietavam o corpo e a mente. Nessa tarde quente, a observar o mar, surgiu a coragem, encheu-se de ar o peito e surgiu a pergunta: “Sentes medo de partir?”
Um “não” sincero e sereno foi respondido e a mão tocou no joelho como que a dizer: “Tudo vai correr bem!”
Não dá para fugir, todas as pessoas, num certo momento das suas vidas confrontam-se com o inevitável sofrimento associado à perda de alguém ou algo significativo na sua vida…e têm que aprender a gerir todas as emoções inerentes ao próprio processo, bem como refletir sobre o mesmo.
E tu, identificas-te com o que escrevo? Também já passaste por estas experiências?
Como conseguiste dar a volta? O quê ou quem te “amparou”?
A experiência de uma perda é vivenciada de modo único por cada indivíduo, sendo que alguns lutos perduram profundamente durante anos, alterando o funcionamento biopsicossocial do indivíduo, outros são vivenciados de modo intenso, mas num tempo mais determinado e ainda há os que ultrapassam tão facilmente a dor da perda que mais não parece ser uma tentativa de a mascarar.
Tem sido demonstrado, através da investigação, que a vivencia de uma perda pode assumir múltiplos modos de expressão, tendo na generalidade consequências ao nível da saúde física e psicológica. Adicionalmente, alguns indivíduos tendem a desenvolver reacções psicológicas à perda, caracterizadas por emoções negativas como a depressão, ansiedade, descrença, raiva, isolamento social, autoculpabilização, desesperança, a paralisia de emoções, o estado de alerta, a preocupação, a revolta.
Os sentimentos de raiva, de culpa, impotência, perda de expectativas a voltar a ter uma vida reestruturada também estão intimamente relacionadas com esta vivência.
Isto leva-me a convidar-te à reflexão: Como é que eu estou a viver os “lutos” da minha vida? E “Como é que a minha vida está a ser condicionada pelos mesmos?” Entendamos luto como uma perda de um ente querido, um emprego, um divórcio.
Há vários tipos de perda e muito mais poderia ser dito e falado acerca deste tema. No entanto, o que te quero dizer é que viver um processo de luto sozinho não é preciso! Podes procurar um profissional de saúde que te ajude a resignificar a tua perda nos 3 momentos cruciais do processo:
- Reduzir a intensidade das respostas ao luto;
- Promover uma maior resiliência no processo de adaptação;
- Escutar a tua história e ajudar-te a construir/criar um discurso narrativo coerente, que condense todo o significado da experiência da tua perda e te permita continuar com a tua vida de modo mais funcional.
Termino este artigo, partilhando contigo que a pessoa corajosa de que te falei à pouco é o meu pai, que com muita força interior e com um amor incondicional partiu em paz! Uma semana depois de me ter transmitido a mensagem de que ia “ficar tudo bem!”
Sem saber, sem ter consciência, o meu pai, com a sua força, ajudou-me a viver o meu processo de luto e a perceber o quão importante é falar, falar verdadeiramente sobre as coisas… e partilhar, partilhar o que sentimos e o que pensamos.
Fez-me escolher a esperança, fez-me aceitar que o tempo é aliado, e aceitar que este era o caminho de vida do meu pai…Escolhi continuar a ter fé, procurei apoio (a todos os níveis: familiares, sociais, nas minhas relações de trabalho, falei com pessoas que também já tinham passado pelo mesmo, procurei colegas, profissionais de saúde, como eu, e falei-lhes do que estava a sentir).
Ainda hoje, passados 8 anos, sinto uma falta imensa da presença dele! Mas lembro-me dele saudavelmente, com carinho e sou grata por tudo o que me ensinou!
Hoje, enquanto psicóloga especializada na área do luto e ansiedade, ajudo muitas pessoas que, tal como eu, acreditam que não vale a pena viver uma perda sozinhos!
Se te identificas com o que escrevi partilha, fala comigo, conta-me a tua história.