“Como é que isto me aconteceu?
“Porquê a mim?!”
“Será que podia ter feito algo para evitar?”
“Como vai ser daqui para a frente, como vou conseguir viver sem ela?”
“Uma colega sua falou-me do trabalho da Sofia, disse que podia ajudar-me!”
Quando iniciei o processo psicoterapêutico com a Verónica (nome fictício) as questões que continuamente lhe ecoavam na mente eram estas.
O objetivo deste artigo é procurar dar respostas, sustentadas com a investigação científica acerca destas questões e do tema: O luto de um(a) filho(a). No entanto, para uma melhor compreensão desta informação que é
apresentada agora, recomendo a leitura do anterior.
O processo psicoterapêutico com a Verónica decorreu durante mais de um ano e quando entrei em contacto com a mesma para a desafiar a ajudar-me a escrever estes artigos verifiquei o quanto está diferente…a dor continua, mas de uma forma muito mais aceite, com a alma cheia de um amor incondicional que ultrapassa qualquer barreira ou distância física, que dá lugar a uma dimensão espiritual muito mais consciente e presente!
Questões emocionalmente difíceis de responder…
Perder um filho é o “golpe mais dilacerante” de todos e requer dos pais um
ajuste emocional para enfrentar a situação individual, mas também as
alterações da dinâmica familiar. “A morte de um filho altera o equilíbrio familiar.
Há diferentes reações entre os membros da família. A mãe, pode, frequentemente, sentir-se culpada por ter falhado nos cuidados maternos, que podem ter contribuído para a morte do filho.” (Lazare, 1997, citado por Freitas, 2000) e autoquestiona-se.
Sobre esse sentimento de culpa, que é comum entre as mães enlutadas, Gibbon, (1997, citado por Freitas, 2000), refere que, muitas vezes, a culpa é tão intensa que a mãe assume a responsabilidade pela morte gerando, assim, manifestações hostis que podem ser dirigidas ao marido (sobretudo, se ele não foi um pai presente), ou alguém que foi hostil com o filho.
A Verónica refere que o apoio da família e amigos foi muito importante para superar os primeiros momentos de dor:
“Percebi que não podia ter feito nada para evitar a perda e que as lembranças ficarão comigo para sempre! A ferida ficará para sempre, mas agora de uma forma mais ténue. Apesar da curta vida que viveu, a mesma foi intensa e com muito amor e que ela fez a diferença entre a família e os amigos, deixou a sua “marca”.
As investigações científicas em relação ao género, confirmam que as mulheres (mães) apresentam maiores estratégias de coping do que os homens, apesar da diferença não ser significativa. Este resultado é corroborado com a investigação de Barros, que afirma haver uma maior predisposição por parte do sexo feminino (Barros, 2002, citado por Barros e Neto, 2004) e também vai ao encontro do estudo de Gibbon, (1997, citado por Freitas, 2000), onde afirma que a perda de um filho aciona uma série de mecanismos no sentido de restabelecer o equilíbrio nas diferentes áreas de vida da mulher.
“Decidi ter acompanhamento psicológico para me ajudar a lidar com o
pesadelo, a lidar com a sensação de impotência e para poder desabafar e
chorar num espaço só meu, reservado, sem demonstrar aos outros o que ia cá dentro!”
“Todo o processo inicial foi muito doloroso , por vezes achava que era um
pesadelo e que tudo ia voltar para trás, queria muito pensar que nada tinha
acontecido, mas as consultas ajudavam a manter a realidade e a aprender a
lidar com ela e recordar todos os momentos bons que tínhamos vivido e o quanto ela era querida por nós.”
“O dia do funeral marcou-me imenso tudo parou a volta do que tinha
acontecido, todos lhe prestaram uma última homenagem, todas aquelas capas negras no chão…Foi pena ter sido pela razão que foi! Tive de ser forte, ganhar coragem e lutar pela família que ainda tinha comigo, precisávamos uns dos outros!”
O luto poderá ser atenuado através de diversos fatores e dos mecanismos de
coping, que são estratégias cognitivas e comportamentais utilizadas pelas
pessoas para fazer face a situações internas e/ou externas que são percebidas como excedendo a capacidade de utilização dos recursos pessoais disponíveis e aprendidos ao longo da vida.
A Verónica recorreu à terapia e recorreu a “Outros significados,
simbolismos e coisas onde me agarrei com força para me aguentar!”
“À carta que um amigo da minha filha me escreveu. Ajudou-me a acreditar que ela era querida, importante na vida deste jovem e que estaria feliz, sempre que lia a carta chorava muito, mas sentia uma paz interior muito grande!”
“Comecei a investir na minha dimensão espiritual, através da meditação e o Yoga”
“Fiz questão de celebrar as datas especiais, por exemplo, no aniversário dela, fizemos algo simbólico, junto das pessoas que lhe eram próximas!”
“Resolvi fazer uma mudança de função na minha empresa, para me sentir mais liberta e com mais tempo para dedicar a mim e aos meus e saiu-me um peso nas costas!”
“Escolhi lutar pela família que ainda tinha, um marido e um filho que precisavam de seguir em frente!”
Conselho a todas as Verónicas (pais e mães que perderam o(a)
seu(sua) filho(a)!
A Verónica escolheu VIVER… muito mais do que simplesmente existir!
Ela escolheu fazer mudanças na sua vida
Escolheu conhecer outras realidades e experiências
Escolheu acreditar que a filha é agora uma estrela que tem a olhar por ela!
“É sem dúvida a minha Estrela que me ajudou e ainda ajuda todos os dias, a
dar-me a força e a coragem que lhe tinha ensinado! E é essa mesma força e
coragem que me ajuda ainda neste momento. Recordo sempre o seu sorriso maravilhoso!”
“Todos os dias ela está presente em mim, todos os dias vejo a beleza dela na
beleza das coisas mais simples da vida…ainda choro, sim ainda choro, mas o tempo ajuda e o amor incondicional que um pai sente por um filho esse…esse nunca morre!”
Se ao leres este artigo identificas ou reconheces “uma Verónica” (mãe, pai) que possa estar a precisar de ajuda e apoio psicológico, posso ajudar-te a ajudar!
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