Já te aconteceu teres tudo planeado para um grande dia de trabalho, sais de casa e de repente tudo muda?
A mim já, muitas vezes! Vou partilhar contigo a última situação que me aconteceu!
18 de agosto de 2020 saio de casa com a minha filha mais nova para a deixar na avó enquanto me preparo para um dia cheio de consultas. A caminho do meu destino o cheiro a pão e a croissants quentes influenciam o meu cérebro e levam-me a parar em segunda fila: quatro piscas ligados e penso: “é só para comprar pão quentinho, vai ser rápido!”
Segundo uma pesquisa feita em Harvard existem relações entre o cheiro, a memória e o comportamento. Segundo investigadores do Núcleo de Neurociências do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG os cheiros remetem a diferentes lembranças e são capazes de direcionar o comportamento humano, despertando sentimentos positivos ou negativos.
A mim particularmente aquele cheiro lembrou-me os muitos verões em que o pão quentinho logo pela manhã cedo era saboreado.
Pois bem, quando saio do carro dou conta de uma realidade dos tempos de hoje, uma fila para a padaria que contornava a rua …voltei atrás, pensando: “O dever chama-me, vou ter que adiar o prazer de comer um pão quentinho, não me posso atrasar!”
Voltamos (Eu e a Clara) para o carro e ela que possivelmente também já se tinha contagiado por aquele cheirinho ou talvez não…apenas quisesse demonstrar, com uma birra imensa, o quanto fica chateada por se sentar de volta na sua cadeira do carro começa a dar-me luta.
E foi aqui que tudo mudou!
Lá estou eu a tentar, com muito esforço, sentar a minha filha e coloco a chave do carro dentro daquelas redes que normalmente estão no banco de trás e cujas minhas servem para guardar brinquedos normalmente…depois de mais ou menos 70 segundos que mais pareceram 7 min de choro, grito e um espernear incansável. Herculeamente consigo que ela esteja sentada e devidamente segura. Com um gesto de atitude vencedora (de uma birra que parecia não ter fim) fecho a porta…com a chave lá dentro e o a carro fecha-se automaticamente. Ficando separada da Clara pelo vidro e por 2 cm aberto do vidro do passageiro.
Aqui entra a história deste artigo: COMO LIDAR COM SITUAÇÕES INESPERADAS?
Durante a nossa vida somos deparados com muitas situações como esta, que não estamos à espera, situações que nos apanham desprevenidos e que temos que saber lidar com as mesmas.
Somos emoções e nestes casos, a emoção MEDO toma conta de nós e temos 3 possibilidades de atuar: (1) enfrentá-lo, (2) fugir dele, ou muitas das vezes (3) paralisamos de tal maneira, que não sabemos o que fazer.
Acompanhei uma pessoa que me partilhou que sempre que via alguém na estrada a cometer um erro na condução, sobretudo quando estava com os filhos no carro começava a sentir-se extremamente ansioso, a adrenalina disparava e sentia uma necessidade enorme de seguir a pessoa, chamá-la a atenção, chegando mesmo, uma altura, a ser agressivo com a mesma.
A experiência de medo vivenciada através de um acidente de carro com a sua mãe em criança, por causa de uma brincadeira na estrada do outro carro, em que ele ficou bem, mas a sua mãe magoou-se muito conduziu-o a fazer uma associação emocional: medo e raiva. Nestes casos a emoção primária (o medo) leva-o a atacar o outro sem filtro e sem relativização, tudo assume proporções maiores.
O que sentimos não é determinado apenas pelas situações e circunstâncias das nossas experiências exteriores, mas também pela forma como as percebemos e pelo modo como respondemos às mesmas. Isto é muito importante de compreender!
Vou voltar a centrar-me no que me motivou a escrever este artigo e foi algo bem mais simples: deixei-me render pelo cheirinho do pão quentinho acabado de sair do forno.
7 recomendações para gerir imprevistos:
- Sai de casa com tempo e evita a procrastinação!
Uma boa gestão de tempo é essência! Evita a lei de Parkinson ou síndrome do estudante que é deixar tudo para a última hora. Por isso é essencial que orientes no dia anterior tudo o que vais precisar, por exemplo, a roupa que vais usar, organizar a pasta com os documentos que vais precisar, prepares, se for o caso, um lanche.
- Verifica todos os detalhes do “cenário” à tua volta
Neste caso específico verifiquei logo as janelas do carro, tentei abrir as portas todas, inclusive a mala.
- Respira fundo
Ligar a familiares, amigos que é logo a nossa tendência para nos sentirmos mais seguros, neste caso, não iria resultar, estavam longe!
Por isso pensa: “Como posso sair desta situação sem preocupar os meus?”
- Vê quem está próximo e te pode ajudar!
Depois de respirares, observa a quem podes pedir ajuda. Neste caso, dirigi-me a um senhor, que tal como eu estava em segunda fila à espera da mulher, que foi comprar pão.
Expliquei o que aconteceu utilizando a técnica da comunicação assertiva e empática em 3 passos:
- Descrever a situação: “Isto foi o que me aconteceu!”
- Explicar o sentimento: “Estou com dificuldades em resolver este problema sozinha!”
- Dizer o que pretendo: “Preciso da sua ajuda por favor!”
Imediatamente o senhor disponibilizou-se a ajudar e com ele outras pessoas se juntaram à causa, tentando confortar a Clara e dando-me força e esperança para continuar a focar-me em resolver o problema.
A empatia é a principal ferramenta para a compreensão, pois graças a este sentimento conseguimo-nos “pôr na pele” de outras pessoas e, consequentemente, entender e ajudar e foi isso que senti neste dia. Generosidade no verdadeiro sentido da palavra!
- Ignora comentários que não te ajudam
A dada altura há pessoas que só atrapalham com comentários que só aumentam o teu cortisol, ou seja, o teu stress. Nestes casos, ignora-os e concentra-te em quem te está a ajudar!
- Agradece ao herói da situação
Depois de 27 minutos a correr para todo o lado à procura de algo que me permitisse entrar no carro através dos 2 cm de janela aberta, depois de se ter ligado aos bombeiros (que acabaram por não aparecer!) o Sr. Mário (senti necessidade de perguntar o nome do meu herói naquele dia) que ao ver um aglomerado de pessoas à volta de um carro com os 4 piscas ligados e compreendido a situação foi gentilmente buscar um arame a sua casa e com muita persistência lá conseguiu abrir o mesmo.
- Celebra e escolhe a pronoia!
Nestas situações, e como em tantas outras (dependendo do grau de gravidade das mesmas, claro!) temos o direito a tomar uma decisão que pode condicionar todo o restante dia.
Podemos considerar que o dia começou mal e só pode terminar mal
…ou então escolher o pensamento pronoia, que não é mais do que o oposto da paranóia e é a idéia de:
“Ok, se esta situação tinha que me acontecer, então devo perceber como lidei com a mesma e o que aprendi de positivo com ela.”
Com este artigo partilhei de modo simples o que fiz, mas sobretudo é um convite a refletires que muitas vezes parte do problema está na própria forma como reagimos às situações e que às vezes é um padrão de comportamento que nem temos consciência do mesmo.
A verdadeira mudança e transformação pessoal é prestar atenção e descobrir de que forma reagimos a imprevistos e a conflitos.
Proponho-te que faças as seguintes reflexões:
“Como me posiciono perante estas situações?”
“Como lido com situações inesperadas?”
“Como é que estes imprevistos condicionam todo o meu dia, semana…?”
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